sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os diagnósticos de bipolaridade, em voga nos periódicos de comportamento, são fato que me arranha. Por isso, onde localizo uma voz sobre o tema, me anteno. Me arranha, sim, porque, primeiro, faz referência a(o diagnóstico de) alguém do meu mínimo reduto; segundo, porque diagnósticos, não digo todos, mas em vários campos, especialmente no da saúde mental, são feitos por enquadramento, aproximação ou preenchimento: não se sabe exatamente..., é virose! No caso de comportamento, é bipolaridade! E em meu trabalho alguém lia em voz alta um teste de revista tal com questões de ‘sim ou não’ sobre manifestações, características ou sintomas dessa "patologia". E todos os que ouvíamos, de alguma forma, nos sentimos bipolares ao final da sindicância. Projetos entusiásticos, mas inconclusos; preocupação acentuada com a própria aparência; estado de excitação verbal em alternância a períodos de tristeza e introjeção; e por aí ia (se é que ia a alguma lugar...).
Fiquei com a pulga presa ao rabo. E hoje, dia seguinte, ao chegar ao trabalho, reacendi o tema e vinha, meditabundo pelo câmpus, cogitando um possível diagnóstico de mediocridade e absoluta falta de emoções ao meu caso. Eu que (somente) em tese não tenho nem procurei ter diagnóstico algum do transtorno, ou picos de euforia e profusas crises existenciais. Fico na corda entre os abismos, meio bamba, meio equilibrista, mas preso à linha reta. Sem atrevimento, não me lanço à coragem de gritar sentimentos, tomar as atitudes absolutamente sinceras, dizer exatamente, se nenhum novelo. Mas não, como a metáfora concreta da arquitetura urbana, fico feliz preso à jaula à prova de intrusos. Vejo o mundo pela grade, como se assim fosse o mundo. Como se já tivesse sido construído assim, mediado pelo ferro. Minha jaula é justa como uma camisa de força, e nela me (c)o(m)primo para poder caber num mundo que apenas suponho. Num mundo em que já nascemos vitimados por viroses, neuroses, transtornos. O que resta é ir revelando em pistas as balizas de uma provável ou fictícia normalidade. E levando uma vidinha normal, insossa, sensaborona, desossada. Mas sã. Des-satanizada. Loas à mediocridade e à vida normal! Tudo aos diagnósticos!