sexta-feira, 9 de abril de 2010

Não, não é alfazema. Gardênia tem cheiro? Tira da gaveta o espelho. Procura-se. Está ansiosa, pois essa é a hora em que os detalhes são fundamentais. O broche arremata o colo nu. A textura delicada da pele lhe empresta uma nobreza absoluta. Sabe-se linda. Mas verifica. Escrutina-se com minúcia. Encontra no reflexo o esboço de um leve riso. Sente um pequeno prazer ao perceber a sua presença de espírito. O vestido claro com um decote que, mais além de realçar os seios, revela o extraordinário colo. Como se emergisse do corpo majestosa cúspide erguida sobre um pedestal de ouro. O tecido alvo leve deriva de si feito bruma. Seu olhar penetra-se intangível. Suas pupilas, dois imensos e inebriantes abismos. De súbito, pela janela entra uma mariposa dançando alegre harmonia. Distrai-se. A cena é a de um quadro renascentista em luz e sombra. Isso a descola de qualquer mundanidade. Está nessa suspensão litúrgica ou lisérgica quando chega a escolta. Sem deixar de atentar ao encanto do inseto dançarino, ergue-se lentamente e segue pelos corredores na direção dos aposentos do sultão.

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