quinta-feira, 26 de março de 2009

Serzim

Me disseram que eu poderia
Me disseram sim que
Muito provável
Mente
É possível que eu poderia
Ser
O que eu sou
Havia garantia
Certificado
E meu patrimônio empenhado
Fácil
Mente
Por um espelho
Um espelhinho
Do meu tamanhinho
Que será que eu era assim
Um serzinho?

Me disseram então vai
E me empurraram
Ladeira acima
E pensei: será que a vida
É toda feita assim de rima?
Muito provável
Mente
Mas não somente
Havia outra linha
Que logo me tratou de esguelha
Será que ser é assim
Uma espécie exótica de pentelho
Uma imagem no espelho,
Um serzim?

Me disseram que eu poderia, sim
Fazer um verso alexandrino
Canção de gesta pós-moderna
Tivesse eu a liberdade
Para definitivamente me meter na academia
Muito provável
Mente
Haveria muito a dizer sobre este tempo
E o verso não é, pois, o som da lira do pensamento?
Penso que penso o que penso, e canto
Será que alguém me sopra pelo fundo da boca?
Mas nem tudo é verbo
Olho-me no espelho baço do banheiro
Será que sou assim
Um ser partido ao meio
Sem começo, sem fim
Esse serzim?

Um comentário:

  1. pópis este foi o que mais gostei, não sei se pelo pouco de tristeza que ele me sucita, aquela tristeza miúdo de não se saber, ou a dúvida de saber-se, ou ainda a eterna pergunta: e se eu fosse outro?

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